Em suas obras, Foucault – um filósofo pós-moderno – faz uma leitura sobre o poder. Ele analisa diversas instituições sociais como a prisão, os hospitais, a escola, a família, a Igreja e etc…
Segundo ele, vivemos em uma rede de poderes, onde cada instituição trabalha de maneira à docilizar os indivíduos, inserindo neles informações e maneiras de pensar que sejam pertinentes ao governo instituído na época.
Numa análise minuciosa das prisões européias, por exemplo, Foucault alega que “Todas as violências e arbitrariedades são possíveis na prisão, mesmo que a lei diga o contrário, porque a sociedade não só tolera, mas exige que o delinqüente sofra”. Foucault busca estudar as relações de poder fora da concepção do Estado. O filósofo não acreditava que a dominação e o poder sejam propriedades de uma única fonte – como o Estado ou as classes dominantes –, mas que são exercidos em diferentes direções, cotidianamente e em diversas escalas.
Com a descoberta de que o corpo poderia ser um objeto e alvo de poder, há uma reforma no sistema carcerário europeu e a disciplina surge como metodologia para o controle meticuloso dos corpos, supondo que quanto mais dóceis estes forem, mais úteis eles serão para servir aos propósitos do Estado. Essa docilização acontece não somente de forma física, mas opera também nas consciências. Isto explica o porquê Foucault afirma que o corpo humano é alvo pela prisão de adestramento e aprimoramento e não de mutilação e suplicias.
A docilização do corpo tem uma vantagem social e política sobre os castigos corporais, porque este enfraquece ou destrói os recursos vitais. Já a docilização torna os corpos produtivos. A invenção-síntese desse processo, segundo Foucault, é o panóptico, uma forma de controle. Segundo Foucault “[…] o Panopticon era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel se dividia em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário trabalhando, um prisioneiro se corrigindo, um louco atualizando sua loucura, etc. Na torre central havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nela nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que fazia o indivíduo estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de venezianas, de postigos semicerrados de modo a poder ver tudo, sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. […]”
Para o filósofo, a sociedade na qual vivemos é uma sociedade panóptica, nesse contexto a idéia de que os indivíduos seriam mais produtivos se tratados de maneira pacífica é projetada em todas as instituições existentes, criando um poder disciplinar dentro de cada âmbito social, esse poder é exercido para conter as pessoas, vigiá-las constantemente e por meio dele o saber é introduzido. O conceito definidor da modernidade, segundo Foucault, é a disciplina – um instrumento de dominação e controle designado a suprimir ou domesticar as condutas divergentes.
A escola é uma das instituições de maior importância segundo o filósofo, é uma das “instituições de seqüestro”, como o hospital, o quartel e a prisão. São locais onde os indivíduos são inseridos e internados durante um tempo para que seus comportamentos e pensamentos sejam formatados.
Outra base do pensamento Foucaultiano é a biopolítica que, por definição, seria a evolução da sociedade de controle, o poder disciplinar completamente inserido na população.
O sustentáculo da biopolítica é a preservação da vida. O Estado que exerce esse tipo de política potencializa a vida da população com políticas de saneamento, gestão da saúde, da higiene, da habitação, das ruas e avenidas, da alimentação, da natalidade, da sexualidade, da expressão, das trocas econômicas, da segurança e de tudo que beneficiar a existência da sociedade. Com a vida potencializada, surgem argumentos que legitimam a supressão de outras vidas para a manutenção do bem estar coletivo.
A pergunta que surge é: Como a guerra continua sendo possível quando vivemos num Estado que tem como objetivo a proteção da vida? – a resposta é simples: não é a vida de todos que o Estado biopolítico procura proteger e sim, de uma minoria conexa a seus interesses, Foucault diria: “trata-se de fazer viver e não deixar morrer a população”.